pelo nosso amigo Luis Queirós, um telheirense…
Vivem-se tempos de angústia e de incerteza no nosso país, mas também um pouco por toda a parte. É a crise económica, o aquecimento global, os desastres ambientais, a crise energética, a globalização, as assimetrias regionais, os conflitos latentes, o terrorismo ou a, sempre presente, ameaça nuclear. São contingências universais mas que na aldeia global afectam potencialmente todas as pessoas e todos os lugares, mesmo os mais isolados e remotos. E, o pior de tudo, é esta espiral de pobreza que paira sobre nós como uma espada afiada e que ameaça, por longo tempo, o nosso futuro.
Nos dias de hoje, os jovens vivem na incerteza do emprego, e os velhos na solidão dos lares. E a população activa está no meio, e sente-se perdida: tem de cuidar dos filhos, que estão à espera do emprego, e dos pais, que estão à espera da morte. Viciou-se no consumismo, vive na dependência do automóvel, da televisão e do multimédia. Deslumbra-se com os novos Ipads, mas não percebe ou percebe mal o que está a acontecer à sua volta. Ninguém lhe aponta um rumo, sente-se desorientada.
Muitos de nós, vamos perceber, dentro de pouco tempo, que, afinal, estávamos a viver um sonho. Disseram-nos que esta crise económica é um mero acidente de percurso, e querem fazer-nos acreditar que ela vai passar, e que tudo voltará a ser como dantes. Mas começa a bulir em alguns de nós uma angustiante sensação de que o modo de vida da nossa geração, assente na globalização e caracterizado pela civilização da abundância e do desperdício, estará prestes a chegar ao fim. Será que estamos preparados para isso?
O que está verdadeiramente em causa é o modelo – predador de recursos e poluidor – em que assenta a nossa economia, e que já não funciona. Falam-nos de crescimento como a solução de todos os problemas a começar pelo desemprego, e nós sentimos que estamos a tocar o céu, a atingir um limite para lá do qual já não se pode crescer: falta o espaço vital, faltam os recursos, sobra a população e sobra a poluição.
O modo de viver tradicional está destruído, e não se advinha outro que o venha substituir. Viver à custa da segurança social, do fundo de desemprego, dos subsídios do Orçamento do Estado ou dos fundos da CE não é solução sustentável. E as maiores ameaças, no futuro, pairam sobre os grandes aglomerados urbanos e os seus tristonhos subúrbios e dormitórios que são “sítio nenhum”, de onde se irá fugir quando os alimentos escassearem e os depósitos dos automóveis ficarem irremediavelmente vazios.
E parece que nem sequer existe o outro lado da crise! Os acontecimentos das últimas décadas roubaram-nos a esperança no chamado modelo socialista, que alimentou os sonhos da juventude da minha geração. Acabou a crença nos “amanhãs que cantam”, e está definitivamente desacreditado o modelo de “a cada um segundo as suas necessidades, de cada um segundo as suas capacidades”.
Hoje só nos resta o estreito caminho da Transição, que é uma reaproximação à natureza, e uma nova forma de olhar o mundo, menos consumista e mais solidária.
leis o original em http://poscarbono.blogspot.com/2011/04/tempo-de-angustia-e-de-incerteza-tempo.html
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